quarta-feira, 27 de maio de 2009

Pseudotranscrições, parte I

Tudo começou quando um filho morria de vergonha porque o pai era Palhaço de um Circo sem futuro... E ele cresceu sem dizer onde é que o pai trabalhava pros amigos, sempre muito envergonhado, cresceu com a vida muito amargurada, se formou em outra coisa.

E, um certo dia, recebe a notícia que o pai está no leito de morte. Ele corre lá, entra no quarto, tira a gravata, tira o paletó, se ajoelha e diz:

"Pai, me ensina a ser palhaço..."

"Pai, me senina a ser palhaço..." — Repetiu.

"Isso não se ensina, seu bosta!"

(Cordel do Fogo Encantado — O Palhaço do Circo Sem Futuro.)

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Bom, não sei ao certo porque comecei com a transcrição acima, mas notei que há muito não dialogo com os raros leitores daqui e isso é um erro muito grande. Afinal, precisamos cultivar uma boa interrelação até para que o interesse de vocês por esse espaço aumente e o meu em construí-lo também. Estou com muitas idéias engavetadas e lamento muito por não poder colocá-las todas em prática.

Gostaria de agradecer aos que aqui visitam, mesmo que por curiosidade, e também aproveitar para comentar sobre os posts mais abaixo. Bom, os contos pertencentes ao "Arrial d'Ajuda" fazem parte de um possível-futuro-projeto que veio na minha cabeça após um encontro estudantil em vitória da conquista e minha recente onda nordestina. Sabe, as vezes a busca de uma identidade, ainda mais quando você é oprimido socialmente é algo que lhe dá forças e impulsiona. Talvez por isso nós, nordestinos, tenhamos alcançado um espaço de maior respeito dentro da sociedade, afinal temos nossa própria identidade cultural que é, não só respeitada, como apreciada.

Mas, em breve, devo trazer alguns textos mais reflexivos, se assim meu tempo permitir. E não se acanhem, comentem, não custa nada! :*

quinta-feira, 21 de maio de 2009

pseudocontos, parte II

Arraial d’Ajuda —

Ato segundo, sexto dia e meio.
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... Os dias se arrastaram rapidamente, como se alguém lá de cima fizesse as terras daqui e de aculá girarem mais rápido e as nuvens passarem dispersas, assim como as árvores, os arbustos, a passarada e todas as coisas vivas e não vivas. A única coisa que não vai é a seca. Pois ela é a eterna mácula desta terra e não há chuva ou ajuda que salve essa gente sofrida de seu destino trágico.

Rubento, o cão, uivou por seis dias e cinco noites. E, se algum homem pudesse escutar a língua dos animais, escutaria não palavras ou frases ou versos... Escutaria um sentimento: SAUDADE. Pois eles, os animais, ao contrário de deles, humanos, não precisam de palavras para expressar sentimentos. Expressam por si só e isso lhes basta. Talvez por isso sejam tão ricos, os animais. E eles, humanos, tão pobres... tadinhos...

Quando o sol deu adeus a seu posto de castigo eterno àquela terra sofrida, foi a vez de uma minguante lua emergisse por entre os troncos retorcidos das arvorezinhas e por detrás das serras lá dos confins do Sergipe. Minguava como muita gente, esquecida entre o véu de estrelas. Porém, dizem as bocas antigas no Sertão que é na sexta noite após a morte que a alma do morto trafega para o outro mundo. E, por isso, é o dia perfeito para romaria. Assim, em meio à luz das estrelas e sob a vigia desatenta daquela mesma lua, lamparinas caminhavam aos sons de batuques:

TUM-DUMDUM-DUM!

“Iêêêêêê-rêíôôô...
Iêêêêêê-rêíôôô...

Nossa Senhora salve, salve agora,
Esta alma perdida que implora,
Pois, se este é o castigo da morte,
Tu és a salvação, Senhora...”

TUM-DUMDUM-TU-DUMDUM-DUM!

E não só lamparinas, como velas vinham passando, passavam em meio a rostos desfigurados pela escuridão e pela luz. Rostos castigados de pessoas quase tão moribundas quanto aquele que vinha carregado por seis vultos. Ali, por cima da noite, só se podia ver a blusa branca e o chapéu de palha sob a mão de resto tudo era negridão.

Preto sofrido, pobre Bento, morto bandido pela bala de um Birrento... E caminhavam as pessoas, e as velhas senhoras vinham à frente, com seus lenços nas cabeças para espantar o frio quase que contrastante com o calor que se fazia de dia. Uma delas carregava um terço, outra uma imagem de santa, sendo que santa nada tinha. Porém, hoje, todos os pecados eram esquecidos e defeitos apagados. Diante da morte, somos reduzidos a anônimos. Apenas uma massa sonora...

TUM-DUMDUM-TUDUDUM!

“Aiêêêê...
Leva esta alma contigo,
Pois não há mais perigo,
Eis nosso pedido amigo,
Ao nosso pobre partido...

Carregue consigo sua dor,
E dê-lhe um pouco de perdão,
Eis nosso pedido amigo,
Nesse pobre bordão...”

TUM-DUMDUM!

E batiam as chinelas no chão pobre, assim como eram pobres os versos, as antigas, as pessoas, tudo que os cercavam. Celebravam a partida de Bento, como se fosse motivo de festa. Usavam palavras falsas para descrever sentimentos falsos de um falso luto por alguém que poucos ali conheciam. Lá atrás de todos, a passos solitários, vinha Rubento. Não uivava hoje, sequer rosnava ou latia. Vinha silencioso atrás dos homens, com os olhos cheios de lágrimas e o focinho molhado. Pelo costume e pela tristeza. Vinha ele, o cão, atrás dos homens. Ou seria mais humano o cão que os animais homens?

E assim caminhou a romaria até a pequena capela no pequeno arraial. Lá dentro, postaram-se todos para prestar suas ultimas homenagens ao falecido Bento. Rubento, pobrezinho, ficou para trás. Animais só podem ficar dentro da capela, uma pena!

E quanto ao Bento? Ainda não o enterram foi falta de lugar. Bento, preto, indigente, não tinha sequer um lugar para cair morte, literalmente. Entreolhavam-se as pessoas fingindo tristeza, enquanto as crianças – menos experientes na arte da mentira. – riam e tocavam no corpo fedorento do morto. Algumas senhoras se escondiam pelos cantos e tapavam o nariz em seu asco invisível. O frade, então, benze o homem com água Benta. Pobre Bento, sequer sentia aquela água divina sobre seu corpo. Pena que os vivos não podem sentir seu gosto sacro. E, para os mortos, pouca diferença fazia, já não tinham sentidos mesmo.

Frade: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém... — Adiantou-se. E não disse nada mais. Não há discursos para “ninguéns” como aquele preto velho. E, assim, fechou-se o caixão. Os mesmos seis vultos carregaram o caixão até o fundo da capela. Mas enganam-se aqueles que pensam que Bento, agora pela água Benta, seria enterrado ali. Não, não mesmo. Ordenou-se, e não se sabe quem, seu sepultamento nos fundos de sua humilde venda, numa cova de apenas setenta centímetros – e não sete palmos. – de profundidade.

Eis, então, o fim de mais um nordestino sofrido, nesse mundo bandido chamado Sertão...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

pseudocontos, parte I

Arraial d’Ajuda — Ato primeiro, o mito.
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Adentra-se por entre os confins das terras nordestinas e ultrapassa o círculo de fogo. Emerge por entre a caatinga e encontra, por fim, o Sertão. Um Sertão sem fronteiras, verdade ou temporalidade. Estamos num mundo paralelo que de tão próximo chega a ser um espelho da realidade. Não será contada hora, dia, mês ou ano; Resquícios de um novo tempo. Conheça apenas o essencial deste, que contará a sangue e suor a saga daqueles que neste mundo viveram. Severinos, sim, sofridos de d’uma vida sem humanidade. Mas também personagens essenciais para a saga que aqui será descrita.

Lá pros lados do Sergipe, havia um pequeno vilarejo com o nome de Arraial d’Ajuda. Não ajudava ninguém, muito menos era ajudado. Terra pobre, castigada pela seca que vinha sazonalmente durante quase todo ano. Aqui, há apenas três estações: Quente, seca e inferno. E é aqui que começaremos a contar as histórias de alguns poucos sobreviventes dessa terra sofrida, de gente tão simples e maltrapilha...

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Mais um dia nasce minguado no pequeno vilarejo. Uma galinha cisca na porta da venda feita de barro alguns restos do milho do saco que ontem rasgou na porta desta. E, tão logo, é espantada por Rubento, o cão vira-lata que cuidava do posto comercial. Esvoaçada, a galinha saltava para o meio da rua, dando cocoricós, agitando as asas. A porta de madeira velha, pintada de um verde morte é entre aberta e de lá sai um mulato. Seu Bento, filho de filho de filho de escravos, Bento no nome, mas não na vida, pois não há benção na vida do sertanejo.

Bento: Xô, xô, Rubento... — Disse o preto velho batendo o pé e espantando o cão que lambia uma ferida na junta da pata traseira esquerda. Ali, adiante, vinha Dona Firmina, beata de família, que ficou de tia por não ter nenhuma outra valia.

Firmina: Dia, Bento.

Bento: Ôba. — Respondeu o outro com um riso amarelo.

E, assim, pouco a pouco as coisas iam se ajeitando, as pessoas passando e o dia clariando. Um jegue passava com Maninho carregando na cangaia um parco milho da fazenda de seu pai. Marianinha, filha do coronel Deotério, caminhava com um guarda-chuvinha fino de seda trazido lá dos confins de Salvador. E assim passavam. Passavam todos até a passarada.

E, por volta do meio da matina, chegou Zé de Biré, jagunço de confiança de Deotério. De uma lado uma pistola, do outro um facão amolado. Subiu os degraus esculpidos no barro batido da venda de Seu Bento e bateu com a mão sobre o balcão.

Zé: Qual cachaça você tem aí?

Bento: Desculpe, seu Zé, mas está em falt--...

Zé: Eu perguntei... qual cachaça você tem, não me importa se está em falta... — Disse o jagunço, alterando a voz. O bafo indicava que aquele não foi o primeiro lugar visitado pelo homem. Também pudera, o Coronel tomava conta de, pelo menos, três vilarejos além de Arraial d’Ajuda.

Bento: O carregamento da cidade ainda não chegou e...

PISTUIN! — Um sopro. Passos. Uma batida seca. MORTE. Caído ali, no chão de sua própria venda, com um rastro de sangue que vazada do portão, passando pelo balcão até o corpo jazia Seu Bento. O preto velho filho de filho de filho de escravos. Zé de Biré saiu da venda sem sua cachaça, mas Rubento, o cão, deliciava-se com o sangue viscoso do velho Bento. Lambia as patas sujas de vermelho, esbaldando-se num banquete tenebroso. A galinha, pobrezinha, ciscava do outro lado da rua. Enquanto uma velha qualquer cantava em romaria:

“Que deus tome conta de sua alma,
Pois este mundo já não tem mais calma,
Encontre o juízo final nas mãos de deus, ó Bento,
Pois aqui fica o seu relento...”

E, tão logo, mais outras vozes se juntaram, profetizando um mito que era cantado pelas bandas do sertão, transformando em poesia um herói da Caatinga:

“Montado em seu cavalo branco,
Eis que vem o herói da caatinga,
Vestido num véu prateado,
Eis que vem João da Matinga,

Aiêêê...

É o justiceiro do Sertão,
Com sua faca, pistola e gibão,
Protetor dos indefesos,
Não treme nem pra Coronel nem pra jagunço,
Eita pontaria boa do cão,

Aiêêê...”

Zé: PAREM A CANTORIA! — Gritou o jagunço, subindo em seu burro e atirando para cima. — PAREM A CANTORIA, CAMBADA DE MISERAVI! Este que vocês esperam não passa de um fajuto, pois se fosse homem já tinha vindo assisti vocês, gente sofrida, do que apenas cavalgar por entre os Mandacarus desse Sertão...

E assim partiu Zé de Biré em seu burro, seguido pela cantoria. E, a noite toda ela foi ouvida, em meio ao cortejo fúnebre de Seu Bento. Dizem que João da Matinga ouve de longe, através das palmas o choro dos mortos e vem em seu encalço para mandar para o mesmo lugar os assassinos do Sertão. E, assim florescia no chão árido, a esperança da chegada d’um herói as terras longínquas do Arraia d’Ajuda...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

pseudodivagações, parte IV?!

Salve, salve...
Antes de começar mais um texto, gostaria de comentar sobre alguns blogs de amigos que são muito bacanas e que merecem ser visitados. Não, não os contatei previamente para fazer o merchan o que prova que isso é de livre e espontânea vonta
de minha fazê-lo, o que — teoricamente. — dá um crédito maior as minhas indicações.

O primeiro deles é o blog de um amigo recente — nem tão recente assim... — de internet, o Bruno Machado. Ele é estudante de Alemão e tem textos 
muito interessante; um deles, inclusive, é parte da inspiração para o texto de hoje. Endereço: http://ichheibe.blogspot.com/

O segundo, e último, é um blog de charges de um amigo meu da UFS. Irlan Simões é do terceiro período de Com. Social Hab. Jornalismo e trás no seu blog muito humor e sacadas fodásticas com seu traço único. Endereço:  http://simoesimoes.blogspot.com/

Feito esses recados, peço desculpas pela ausência, o tempo anda difícil...

Pseudo Divagações, Parte IV — A pseudoguerra interior!
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"Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou portabandeira
de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular"

(Infinito Particular — Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown)

Divagava sobre o ser. A essência dele, melhor dizendo. Refletia sobre o quão acreditamos naquilo que nos é imposto socialmente e carregamos esses estigmas conosco para o resto de nossas vidas. Dúvida? Darei um exemplo prático e simplório: Quem nunca escutou sobre "BEM" e "MAL"? Acho que a resposta é óbvia: Ninguém. Isso é citado, batido e reproduzido de tal forma que passamos a acreditar nisso.

A mídia desenvolve esteriótipos de mocinhos e vilões; e nós, a ilusão criada por eles, passamos a acreditar que, na vida, existem "papéis" tão definidos. Um erro! Apenas mais um no meio de tantos outros que poderia facilmente enumerar aqui, mas vou me ater no foco desta discussão. Essa dicotomia entre o "BEM" e o "MAL" em nós, seres humanos, já é discutida há séculos. Na Grécia antiga, Platão associava a dicotomia do homem entre o corpo e a alma.

Segundo ele, o corpo é como uma "prisão" para a alma que, trazida para o mundo "real" passa a enxergar apenas sombras do verdadeiro plano luminário: O plano das idéias. Logo, o corpo é uma limitação para a transcendência da alma, que só subirá ao "plano das idéias" quando livrar-se do corpo. Uma visão um tanto quanto fatalista? Talvez...

Saltemos no tempo, agora, e busquemos ligações simplórias entre as idéias acima apresentadas e a filosofia da Igreja Católica. Não precisamos ser especialistas ou teólogos para fazer essas ligações. Por exemplo, conforme os preceitos católicos o que seria a terra? Uma espécie de purgatório, onde os homens são mandados. Aqui, eles devem viver uma vida regrada e sem pecados para que no futuro possam subir aos céus. Notou alguma coincidência entre esse trecho e as idéias de Platão? Não?! Releia então... Caso tenha, ótimo, você está no caminho certo!

A filosofia euclesiástica apossou-se das idéias do filósofo grego parar criar sua doutrina. O corpo é, novamente, tratado como "grilhões" da alma que necessita transcender à um plano superior. Porém, ela adiciona um novo fator: A punição! A punição por não viver uma vida regrada, a ida ao inferno, onde o sofrimento eterno é o destino da alma impura. Criamos, então, o ideário de "BEM" — aqueles que vivem uma vida regrada e buscam a transcendência. — e "MAL" — as almas que sucumbem aos desejos da "prisão-corpo" e caem em sofrimento eterno na hora do "juízo".

Esse ideário é tão reproduzido que chega a ser encarado com um valor de verdade absoluta. Dividem-se as pessoas entre "boas" e "más" descartando-se toda e qualquer capacidade de mudança nisso. Um mocinho será sempre mocinho, um vilão será sempre vilão. Será mesmo?!

Correntes mais "atuais" defendem a idéia da eterna luta interna entre "BEM" e "MAL". A famosa dicotomia do homem que degladia eternamente entre seu "yin" e "yang". E, em verdade, eu vos digo que isso não passa de enganação. Como?! É, en-ga-na-ção!

Voltemos ao exemplo dos mocinhos e vilões. Quando assistimos uma novela, vemos o mocinho apaixonado pela mocinha, super feliz lutando contra tudo e todos para conseguir conquistar e permanecer com seu amor. Entretanto, ninguém vê aquela pobre coadjuvante que sempre amou o mocinho e, no entanto, tem seu amor negado e, quase sempre, é usada, pisoteada, deixada de lado pelo mesmo mocinho repleto de qualidades. Da mesma forma, vemos um vilão (ou vilã, já que estamos numa temática meio que de triangulo amoroso) sem escrúpulos, maléfico e disposto a tudo que, no entanto, protege seu pai de sessenta anos com câncer de próstata. O que temos aqui? Certamente não temos puro "BEM" e puro "MAL". Também não temos "guerras internas homéricas pelo domínio da consciência".

O que temos, por fim, é a verdade. Que o "BEM" e o "MAL" necessitam de um referencial. Ninguém é só uma coisa, ou só outra; muito menos as duas juntas! Fazer o "BEM" ou o "MAL" depende muito mais do "quê fazemos" e "para quem fazemos". Pare para refletir por dez minutos sobre algumas decisões — se querem uma dica, pense em decisões afetivas! — que tomaram na sua vida e as pessoas afetadas por elas.

Não, sério, pense mesmo...

Pensou? Ótimo! Receio que vocês devem ter notado que, a depender da decisão, há pessoas que foram beneficiadas com sua decisão e outras que não. Ou seja, para algumas pessoas você é um "mocinho", para as outras um "vilão". Surpreso?! Não, não deveria. Afinal, isso é a ordem natural das coisas, não somos nada. Somos apenas o que queremos ser para os outros. Pense nisso!

Espero que esse texto tenha ajudado a refletirem, pois isso fará de mim um mocinho... Ao menos espero!

terça-feira, 24 de março de 2009

pseudodivagações III


Pois bem, pois bem,

Parece que o blog finalmente deu uma guinada na minha lista de amigos e, agora, até pessoas que nem pedi para verem vieram comentar. Esse é o tipo de “atenção” que pretendia: puxar pela curiosidade. Peço sinceras desculpas, apenas, por não ter conseguido postar nos últimos dias e dizer que isso será uma constância — essa inconstância. Minha rotina está muito massiva e acaba sendo até contra minha vontade que não posto nada.

Pretendia fazer um making off contando de onde veio a idéia para esse texto, mas acho que não fica muito interessante, pois acaba tirando parte da interpretação e, para não me contradizer, vou apenas postar o texto e deixar que cada um tire suas próprias conclusões...

Ah sim! Já ia me esquecendo de algo que estava pra falar desde o começo do blog. Uma coisa engraçada e inusitada foi quando eu pensei no nome do blog e o pior é que acabou se tornando realidade: As pessoas sempre relacionam o “contos” com con
tos eróticos e o “pseudografados” com psicografados. Não, não faço contos eróticos – ainda, né, nunca se sabe... – e também não faço psicografias ou tenho mensagens do além. N’outra oportunidade eu conto o porquê do nome do blog...

Pseudodivagações, Parte III — A lágrima do riso.
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Fabuloso! Hoje, divagando sobre uma série de coisas notei que boa parte dos meus textos e de todos os textos que me recordei são tristes. Constatei isso ao conversar com um amigo de internet qualquer que, no auge de sua puberdade, entrou naquela fase de “pseudopoeta”. Aliás, quem nunca teve uma fase assim? Justamente naquela época que ninguém olha pra gente, que temos nossos maiores amores platônicos e que somos ultraromânicos.

Conversar com o dito cujo me fez repassar essa minha fase e encarar uma coisa que é tão obvia que chega a ser ridícula: A tristeza atrai o homem. Ou o homem atrai tristeza? Tanto faz, o fato é que quanto mais tristes ou decepcionados estamos, mais criativos parecemos. Sim, parecemos. Pois relendo alguns textos meus antigos dessa fasezinha já supracitada, confesso que entrei numa crise incontrolável de gargalhadas. Aquele sofrimento todo que parecia insuportável e necessitava ser extravasado de alguma forma não passava de meros amontoados de clichês.

E digo mais, se eu juntasse todos os textos feitos e fizesse um “MDC” (Máximo Divisor Comum) para tirar o que havia de comum entre eles encontraria sempre as mesmas coisas. É o “término de namorico”, o “amor impossível”, o “não se aceitar como é” e diversas “coisinhas” mínimas que, naquela época, faziam muito sentido. O fato é que a tristeza, ou a decepção, daquela época acabam despertando um “princípio criativo” que é o delineador do norte sobre o que possa vir a se tornar “arte” ou “poético” para nós.

A tristeza sempre esteve em alta. Sentimentos como solidão, decepção e outras sempre atraíram nós, seres humanos, por ser algo comum a todos. Eventualmente – como no caso da fase pseudopoeta. – temos experiências parecidas que acabam criando uma identidade coletiva da tristeza. E nos sensibilizamos com ela.

O mais cômico e curioso disso tudo é acreditar que textos com visões tristes e pessimistas são grandes obras enquanto textos que falam sobre coisas alegres e felizes são clichês ou textos pobres, quando muitas vezes é o inverso! Talvez, o fato dos leitores sempre associarem as tristezas alheias a coisas de seu universo pessoal e tomar para si aquela dor elevem automaticamente a categoria dos textos “tristes” à algo que seja credível de seu interesse ou de sua compaixão.

Trocando em miúdos; É muito mais fácil fazer um texto triste “bom” do que um texto alegre ou feliz “bom”. Não pelo texto em si, mas pelo que os leitores carregam de bagagem dentro de si. A dor é complexa, o riso não. Ao menos assim encaramos, embora receio que um riso possa esconder muitos mais lágrimas do que possamos imaginar...

sábado, 21 de março de 2009

pseudopausa, parte I

"Texto escrito pelo estudante Thiago Vieira, do quarto
 período de Jornalismo da UFS. Segundo o mesmo, é uma opinião de "quem acompanha a ocupação de fora". Crônica baseada numa frase que ouviu de um tal "Caravanista" falando sobre a atual gestão do DCE: "a massa está feliz"." (por ocupacaoufs.blogspot.com)

A "massa" feliz (ou a crônica da hipocrisia)
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Peguei aquele ônibus das dez. Vazio. Tanto que deu para me sentar e vir refletindo sobre bobagens que não cabem aqui. Seguia o caminho da minha utópica Universidade que cresce enraivecida sobre planos, projetos, ganância e dinheiro. Dinheiro? Só para as obras que eles ousam edificar seus suntuosos prédios sobre pilares da degradação e do sucateamento. Onde sobram concreto, vergalhões e telhas, faltam corações, sangue e idéias.


Desço do ônibus, seguindo pela catraca do terminal, quando quase que tomo um soco no meio da cara. Um alerta daqueles que, mesmo condicionados a olhar para imenso outdoor que exalta a “Expansão Divina” criam um humilde e, porque não dizer, malfeito cartaz a lápis de cera e hidrocor com os seguintes dizeres: “Ocupe a Reitoria que há dentro de você!”. Ainda em nocaute, fico ali, parado, enquanto outros apressados com suas vidas estudantis sequer notam para o pobre cartaz. Oras, quem ligaria para ele, ou para aquela frase escrita por um bando de baderneiros quaisquer que ocuparam meia dúzia de salas na Reitoria.


O que é que isso tem a ver com a vida de todos aqueles engomadinhos que só querem tomar um suquinho de mangaba num trailer qualquer, assistir suas aulas, rezando para que chegue uma hora e ele possa voltar para casa e comer a comidinha da mamãe assistindo uma reportagem sobre a reprodução dos ursos pandas na China em pleno Jornal Hoje. Como um rebanho de desavisados eles entram e saem da universidade sem se dar conta das mudanças, sutis, porém constantes que ela passa. E não, não me refiro as obras ou qualquer expansãozinha qualquer. Refiro-me a luta daqueles que vão de contra a maré. Que dão a sua cara a tapa e se esforçam para estar ali, lutando, por algo que sequer é para eles, mas que é para o bem do próximo. De pessoas como eu, você, ou aqueles mesmos engomadinhos já supracitados, exceto pela verdadeira palhaçada que a Universidade faz com eles.


Imagine só, você sai de sua casa, no interior ou em outro estado e se presta a um teste que avalia a sua renda familiar para receber um verdadeiro “atestado de miserabilidade” para então poder estudar com a promessa de que a universidade lhe dará um suporte mínimo para que você consiga se instalar e manter seus estudos. Pois é, essa é a vida dos residentes. Ela seria tão boa quanto a minha e sua, se esse “suporte mínimo” não beirasse o ridículo. Com uma renda inferior a 500 reais cerca de nove pessoas são obrigadas a se virar e sobreviver numa mesma casa (que nem vou comentar o estado.) e pagar aluguel, água, luz e material de limpeza. Acha que consegue? Nem eles. O fato é que a essa situação caótica chegou a um ponto que eles não puderam mais agüentar. Arrebentou-se a corda da hipocrisia e os estudantes resolveram protestar.


Você deve estar pensando: “Mas que alunos malcriados, só sabem ocupar, ocupar, ocupar, porque não tentaram conversar antes?” — Ok, vamos lá... Quem em sã consciência chegaria ao extremo de ocupar algum lugar, de dormir em péssimas condições para protestar por algo se os demais meios não fossem tentados e a própria necessidade não fosse extrema?


Particularmente não sei o que é pior, se é toda essa utopia que a universidade vivencia a necessidade que os meus companheiros residentes passam ou se é o descaso daqueles que chegam até nós para abrir a boca e dizer que “a massa está feliz”... Felizes estão os hipócritas, que vivem suas vidinhas enquanto os demais sofrem. Felizes estão aqueles que são incapazes de enxergar a realidade diante de seus olhos e felizes somos nós que mesmo com tudo e todos contra resistimos juntos por acreditarmos que poderemos mudar, um dia, a hipocrisia.

pseudodivagações, parte II

Gostaria de agradecer, primeiramente, às pessoas que têm acessado o blog e comentado — mesmo que via msn. — os textos. Fico muito feliz, amigos, e peço que repassem o link para conhecidos, amigos, familiares, enfim, qualquer pessoa que vocês julguem interessantes. Queria também comentar sobre algo engraçado que me foi lembrado por uma amiga ontem a noite. Conversando pelo telefone, ela acabou levantando um fato curioso (que certamente os que acompanham há pouco meus textos não entenderão): a minha recorrência por ônibus.

Fiquei pensando nisso ontem a noite e hoje pela manhã, e sabe... é bem verdade. Volta e meia acabo retratando a realidade dos ônibus. Acho-os fantásticos, verdadeiras miscelâneas de pessoas, estilos, jeitos. Mesmo os mais incômodos (os cheios!) sempre tem algo inusitado ou surpreendente a ser revelado. Por isso, sempre que posso busco algum elemento que vejo no meu cotidiano de transporte coletivo para comentar aqui. Mas, também, espero não cair no clichê de só ficar com os ônibus. Por falar em clichês...


Pseudodigavações, parte II — Clichê de idéias.
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Certo dia, tomado pela curiosidade das línguas afiadas dos outros, os quais me espetam com suas palavras cheias de lâminas de banalidades, fui até guarda-roupa. Não busquei roupa, cueca, calça, camisa, adereço algum. Abri a porta apenas e me deparei com ele: o espelho. Fiquei ali, por longos cinco segundos encarando a figura que se formou e, com um salto, esquivei-me para o lado. Sumi de seu campo de visão. Vim sorrateiramente, de mansinho, como quem não quer nada, chutando uma bolinha de papel, com as mãos entrelaçadas por trás do corpo. Encarei a figura, desfigurei-me.

Perguntam-se, agora, aqueles que leem o porque disso. E eu direi, ou talvez não diga, pois ache desnecessário. A verdade é que cansei de apenas ouvir e resolvi olhar. Resolvi olhar fundo e não só ver aquela capa de adjetivos que todos costumam dar. Alto, magro, baixo, gordo, bonito, feio, que seja... Resolvi tirar aquelas roupas qualitativas dadas pelos outros e encarar-me de frente. Tinha uma perguntinha ecoando na minha cabeça, martelando, martelando tão forte que precisava achar uma resposta: Seria eu um clichê?

Aos que não sabem, vale um parêntese para nosso amigo dicionário:

“Clichê: é uma expressão idiomática que de tão utilizada, se torna previsível. Desgastou-se e perdeu o sentido ou se tornou algo que gera uma reação ruim, algo cansativo em vez de dar o efeito esperado ou simplesmente repetitivo.”

Sim, sim, constatei que ao longo da vida somos “utilizados” tantas vezes que nos tornamos previsíveis, comuns... perdemos o sentido. Resolvi então ir mais a fundo, despi-me dos meus pelos, todos eles, e da minha pele. Virei só carne e osso e então me vi novamente... Tive vontade de fugir como da primeira vez, mas não o fiz, estava precavido. E, depois de um tempo, não foi tão surpreendente ver que não passava de um ser humano comum. Pele e ossos. Ossos e peles. Rótulo. O playboizinho, a patricinha, o esportista, o nerd, o emo, o roqueirinho, o Cult, o imaturo, o maduro, o sem-noção, o calado, o simpático. Rótulos. Clichês.

Rasguei a carne, quebrei os ossos. Precisava ver mais! Tudo se partiu então. A carne virou sangue, os osso farelo, o espelho estilhaços e o guarda-roupa pó de serra. Tudo e nada. Nada e tudo. Restou o quê? Idéias. Idéias estas que ecoavam pelo vazio das coisas que ficaram e reverberavam numa dança incessante, vagavam sem destino no subconsciente. Os clichês? Continuam!

Por fim, coloquei de volta toda minha roupa e notei que os clichês não estão em mim, mas sim nas mesmas línguas afiadas dos outros. E que enfiem suas lâminas de banalidades neles mesmos. Obrigado, agradeço!